A Pirâmide de Maslow para Humanos e Máquinas

À medida que as máquinas evoluem para suas versões, cada vez mais, inteligentes e autônomas, passam a perceber suas necessidades e a conduzir suas próprias escolhas.

Os avanços tecnológicos levaram a humanidade a reposicionar fundamentalmente seu papel em um mundo que combina o físico (biológico) e o digital (ciberfísico). Neste cenário, quais seriam as melhores opções para explorar as novas tecnologias e desenvolver princípios que norteiem a colaboração entre seres humanos e sistemas ciberfísicos na era digital?

Um robô ainda vai trabalhar para você

Atualmente, o mundo corporativo encontra-se na 4ª Revolução Industrial, onde a confluência das tecnologias disruptivas está desmaterializando as fronteiras entre os conceitos de físico, digital e das esferas biológicas. Entre os diversos aspectos positivos relacionados à automação e robotização, os de maior impacto no mercado seriam: aumento da produtividade e precisão, redução de custos de produção, redução de riscos relacionados a atividades e ambientes perigosos e insalubres e a criação de novos empregos, principalmente os de maior valor agregado, nos setores de tecnologia e engenharia.

Certamente, no curto prazo os robôs não substituirão as pessoas nas organizações. Na verdade, as máquinas de hoje se posicionam como ferramentas de aumento de eficiência e eficácia, sendo capazes de realizar em minutos tarefas operacionais e repetitivas, que um funcionário humano levaria horas ou até dias. Desse modo, esse mesmo funcionário obterá (mais) tempo para analisar, refletir e estudar os dados da companhia para uma tomada de decisão estratégica, por exemplo. Ou seja, alcança-se o melhor dos dois mundos, quando a colaboração entre pessoas e novas tecnologias contribui para gerar mais valor ao negócio.

Estratégias para um mundo mais inclusivo e sustentável

Assim como os recursos humanos, os recursos robotizados também têm necessidades básicas para executar suas tarefas a contento. Segundo Abraham Maslow, as pessoas possuem um conjunto de sistemas de motivação que não estão relacionados a recompensas ou desejos inconscientes, descritas em um modelo de “hierarquia de necessidades motivacionais”, que compõem a Pirâmide de Maslow.

Essas necessidades já influenciadas e modificadas pelas novas tecnologias, cuja disrupção proporcionada vai além da criação de novos mercados e cadeias de valor, impactando inclusive em nosso estilo de vida e na hierarquia de nossas vontades e motivações.

A releitura da Pirâmide de Maslow, complementada pelas novas necessidades humanas relacionadas ao seu “eu digital”, nos mostra a complexidade agregada pelas novas tecnologias e redes sociais da era digital ao nosso estilo de vida atual.

Hierarquia de Necessidades de Maslow – e as Mídias Sociais que as completam¹

Atualmente, existem mais de 2 bilhões de pessoas acessando as redes sociais, uma população maior do que a da China, que continua crescendo em quantidade de pessoas no tempo que elas dedicam às suas personas virtuais.

Quem somos, o que fazemos, o que pensamos… hoje, tudo está mesclado com as nossas conexões virtuais. Somos o que postamos (ou, pelo menos, tentamos ser), conversamos pelas redes sociais e conferimos online a credibilidade das pessoas.

A próxima derivação da hierarquia de necessidades de Maslow propõe uma correlação entre as necessidades humanas e as respectivas necessidades das máquinas.

Enfim chegou o momento em que os robôs começam a adquirir os bens e serviços necessários ao bom andamento de suas atividades cotidianas. Dessa forma, precisamos, desde já, aceitar as máquinas como um novo grupo de consumidores com necessidades básicas e específicas. Esse novo consumidor irá demandar novos formatos de produtos e serviços, que deverão ser projetados, definidos, comunicados, precificados e apresentados a clientes dotados de inteligência artificial.

Inicia-se, assim, a Economia de Máquinas (Machine to Machine – M2M – Economy ), em que esses sistemas ciberfísicos devem ser aceitos como um novo e relevante segmento consumidor à medida que geram e gerenciam suas próprias ações de compra.

As máquinas se comunicarão entre si e com os humanos por meio de linguagens (protocolos) próprias, trocando informações e descobrindo os serviços de que precisam, definindo a mecânica e o câmbio que norteiam as trocas entre valores físicos e digitais. Essas novas infraestruturas e protocolos podem ser construídos sobre uma combinação de Blockchain e Contratos Inteligentes, Inteligência Artificial (#AI) e Aprendizado de Máquina (#ML).

Alguns bons exemplos de necessidades “fisiológicas” básicas de máquinas seriam: energia, aquecimento e resfriamento, suprimentos físicos consumíveis, conectividade e fluxos de dados, poder de computação (externa) e serviços em andamento. Muitas dessas necessidades “fisiológicas” são atendidas pelos fornecedores por meio de um fluxo automático de insumos, como: eletricidade, gás ou fluido líquido, conectividade baseada no uso, fluxos de dados em tempo real, acesso baseado em tempo a um serviço físico, uma API digital ou ativo digital ou, ainda, uso baseado em apólices de seguros.

Ao consumir o insumo, a máquina passa a dever ao fornecedor, que pode ser pago por meio de um serviço prestado pela máquina ou por meio de ativos digitais. Esse tipo de transação contínua entre duas ou mais máquinas é chamado de troca (escambo) automática de insumos.

WEF – Blockchain e a 4ª. Revolução Industrial / troca (escambo) automática de insumos

O conceito de “troca (escambo) automática de insumos” também pode ser aplicado a transações homem-máquina, como na troca de poder computacional (cedido pela máquina) pelo custeio da eletricidade (pago pelo humano) ou no caso de equipes híbridas compostas por humanos e máquinas. Nesse caso, os robôs poderiam executar as tarefas para as quais são mais adequados ou aquelas que as pessoas não têm interesse em realizar, como levantar itens muito pesados, testar produtos químicos perigosos ou analisar grandes volumes de dados. Esta divisão de tarefas libera os humanos para se focarem em suas áreas de excelência, como a adaptação a situações em constante mudança ou a apresentação de soluções criativas para problemas complexos.

Caso o pagamento do insumo seja efetuado por meio de ativos digitais, este é atualmente suportado por diversos métodos de pagamento discretos baseados em blockchain, tais como Ethereum ou zCash. Nesse caso, algumas opções baseadas em tecnologia blockchain consistem em canais de pagamento Ethereum Raiden ou µRaiden, canais de pagamento Bitcoin Lightning ou canais flash IOTA.

O carregamento de veículos elétricos, por exemplo, já possibilita a troca de energia elétrica por tokens de moeda criptográfica entre a estação de carregamento e os veículos, o que já ocorre na Pan-European Charging Network, ligando Oslo a Roma.

Assim, as máquinas autônomas e autossuficientes já fazem parte de nosso dia a dia e estarão cada vez mais presentes em nossas vidas. Dessa forma, a boa convivência homem-máquina será fundamental para o bem-estar de todos e exigirá interação efetiva, boa comunicação e confiança mútua entre as partes.

Nesse cenário, as Leis da Robótica, postuladas por Isaac Asimov em 1950, mostram-se mais atuais do que nunca, contribuindo de forma inconteste para confiarmos na convivência amigável com nossos novos colegas mecatrônicos. Portanto, segundo Asimov:

  1. Um robô não pode ferir um ser humano ou, por ócio, permitir que um ser humano sofra algum mal.
  2. Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
  3. Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com as Primeira e Segunda Leis.

Os robôs não são capazes de se unir nativa e automaticamente a seres humanos. Eles precisam ter funções efetivas na equipe, entender outras funções da equipe, treinar com os membros humanos da equipe para desenvolver um entendimento comum, desenvolver uma maneira eficaz de se comunicar com os seres humanos e ser resilientes e confiáveis. Mais importante ainda, não se deve pedir aos humanos que se adaptem aos seus companheiros de equipe não humanos. Em vez disso, os desenvolvedores devem projetar e criar tecnologia para servir como um bom jogador de equipe ao lado das pessoas.

Assim como em equipes humanas, a confiança interpessoal é fundamental, ou seja, os melhores colegas robôs serão os mais confiáveis e resilientes do grupo – e qualquer violação à confiabilidade deverá ser explicada.

Todavia, mesmo com uma boa explicação, a tecnologia que for não confiável por excelência, provavelmente será rejeitada por seus colegas de equipe humanos. Isso é ainda mais delicado em tecnologias de missão crítica, como no caso dos veículos autônomos, onde há o risco real de perda de vidas humanas.

A pirâmide de Maslow fornece uma excelente estrutura para o desenvolvimento de estratégias ideais para combinar tecnologia e comportamentos humanos para a criação de culturas humanas criativas e de alto desempenho. Embora a inclusão digital seja necessária, não devemos considerá-la como uma meta isolada, mas como meio de aumentar o valor humano: a (colaboração) humana e a inclusão social homem-máquina.

A inclusão de valores humanos coletivos e comportamento ético no desenvolvimento do modelo de IA resultará não apenas em uma IA mais adequada, como também na IA que, ao obter um melhor entendimento, atenda aos requisitos humanos.

Intellimetri – Gerson Rolim, Chief Innovation Officer